Anúncio no Tonogospel: GOVERNO DE MATO GROSSO DO SUL - UEMS

Especial: Movimento Negro Evangélico no Brasil

Compartilhe:

No dia da Consciência Negra, 20 de novembro, o ToNoGospel debate o Movimento Negro Evangélico no Brasil. Considerado novo dentro do cenário gospel, alguns defensores argumentam que o movimento nada mais é que um resgate histórico pois há acredite que a chamada Igreja Negra surgiu em 1841 com Agostinho José Pereira, negro, alfaiate, letrado e que começou a pregar o Evangelho pelas ruas da cidade de Recife, em Pernambuco. Em seus sermões, a necessidade de pregar os ensinamentos bíblicos e a liberdade dos negros. Ficou conhecido como o “Lutero Negro” e congregou com mais de 300 pessoas, um feito para a época. Para Hernani Francisco da Silva, autor do livro “Movimento Negro Evangélico- um mover do Espírito Santo”, o período marca o surgimento da primeira Igreja Protestante Negra Brasileira. Ainda assim, pouca gente conhece essa nova força de atuação no país.

Anos mais tarde, no início dos anos 80, com o fim do Regime Militar, o Movimento Negro começa a despontar com o surgimento de organizações para trabalhar a questão racial negra dentro de uma perspectiva cristã, em busca até mesmo de uma identidade dentro do protestantismo.

Para debater esse tema e outros desafios, foi realizada neste mês, a Conferência Nacional Negritude & Evangélicos: Reflexão, Resistência e Engajamento, no Rio de Janeiro.  Entre renomados pastores e ministros, a Conferência trouxe para o Brasil, o Reverendo Jonh Perkins, militante cristão na área de direitos civis e companheiro de jornada de Martin Luther King.

O Pastor Marco David, da Igreja Batista em Parque Dorotéia, São Paulo, mestre em Ciências da Religião, coordenador-fundador da ANNEB (Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil) e autor do livro “A religião mais negra do Brasil“, defende que a “Igreja não pode se calar nem se omitir diante da discriminação racial". Para ele, a conferência foi o início de um processo para reunir organizações, igrejas e pessoas determinadas a lutar pela justiça seja dentro ou fora da temática da população negra. Para 2015 será preparado o Congresso Nacional Negritude & Evangélicos.

Em depoimento ao portal “Ultimato” ele esclarece que entrou no movimento quando participava em mais uma dentre tantas Marchas da Consciência Negra, sempre realizadas na data do dia 20 de novembro. “(..) quando um homem negro, alto, barbudo e com um vozeirão potente pede a palavra para falar sobre a importância de, em um espaço amplamente dominado por representações das religiões de matriz africana, haver também espaço para os evangélicos. Foi incrível! Evangélicos pentecostais em meio ao movimento negro brasileiro? Mas os pentecostais não são reacionários e alguns até mesmo racistas em suas práticas religiosas? Não! Aliás, aprendi isso com ele, neopentecostais reprodutores de valores reacionários, machistas, homofóbicos e racistas são minorias barulhentas”, comenta. Em sua obra, há teses onde são debatidos o por quê das religiões pentecostais terem atraído mais de 8 milhões de negros no Brasil.

Porém, em artigo publicado na internet, Hernani Francisco revela que alguns ensinamentos pregados nas igrejas pentecostais podem trazer certo desconforto para os negros e fala, por exemplo, da doutrina da prosperidade, onde o cristão seria bem sucedido conforme os bens que possui. Neste caso, far-se- ia um diagnóstico simplista da situação do povo negro:  “ é pobre porque é pecador e é oriundo de um continente idólatra e praticante da bruxaria”. “Segundo as maldições hereditárias o povo negro é considerado uma raça maldita e para que o negro se livre desta maldição( aceitar Jesus não é suficiente) é necessário que ele faça uma espécie de cura interior se desvinculando de todos os seus antepassados ou seja, não sendo mais negro”, descreve.

Para o pastor Marco Davi é preciso haver reconciliação racial e para que isso aconteça duas coisas seriam necessárias: a primeira é de que os negros precisam começar a aceitarem a si mesmos. “Há uma autoestima baixa entre os negros do Brasil em geral. Muitos têm dificuldades até de discutir o assunto sobre raça. Mas quando alguns têm sentimentos racistas o fazem talvez porque não se aceitam como são: imagem e semelhança de Deus”, argumenta.

Outra realidade defendida pelo pastor é que os brancos precisam compreender que eles têm vantagens no Brasil e o pastor exemplifica quais são: “Os brancos pobres ou ricos já nascem com vantagens nesta nação. A raça dos brancos não foi escravizada por mais de 350 anos. Os brancos têm vantagens emocionais, psicológicas, econômicas, sociais, geográficas, etc. Os brancos não são o objeto principal da violência policial, mas sim os negros”, defende.

 

Polêmico ou não, fato é que o Mapa da Violência no Brasil deste revela que os crimes são mais cometidos contra os negros. Em todo o país, 7 jovens são mortos a cada 2h. São 82 jovens por dia, 30 mil por ano com idade entre 15 a 29 anos. Desse contingente, 77% são negros. “Isso é muito grave, porque basta ser negro. Ninguém está preocupado se ele é evangélico, do candomblé, ou católico. É negro e ponto”, diz Marco Davi.

Mesmo sendo pastor, ele reconhece que a violência recai sobre justos e injustos.  “Confesso que tenho medo, pois tenho um filho de 18 anos e uma filha de 16. Negros lindos por sinal, estudiosos, dedicados. Quando eles saem, eu fico com muito medo do que pode acontecer. Como cristão e pastor, coloco, é claro, nas mãos do Senhor. Mas digo a Ele que o medo existe, porque moro no Brasil. O negro é objeto de violência em primeiro lugar”, argumenta, criticando ainda o fato dessa violência jamais ter sido alvo de campanhas midiáticas seja nos meios de comunicação seja nas redes sociais. “Ou seja, o genocídio aos negros pode continuar, desde que não atinja os dogmas religiosos das igrejas. Mas o que será o que o Senhor Jesus dirá à nossa igreja do Brasil? Racismo é pecado”, sentencia.

Em todo país, o Dia da Consciência Negra, foi instituído por lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT), em 2011. Em Mato Grosso do Sul é feriado nos municípios de Corumbá, Ladário, Itaporã e Jaraguari.